quinta-feira, 5 de agosto de 2021
pequeno-burguês
sexta-feira, 23 de abril de 2021
fragmentos: o "epicurista" e a pretensão dos humanos.
O que me irrita não é nem esse fingimento. Esse jeito de desejar “sem desejo”, esse tergiversar sem fim... esse teatro. Isso é até compreensível. Civilizados que somos, não? O que me assombra é que você finge com sinceridade… E ainda acha que me "entende”, que pode me “salvar”… Ora, salvar de quê?!
Da fome?! Estou saciado. Da sede?! Estou bem hidratado. Da morte?! Estou bem de saúde, obrigado…
Você quer me salvar do medo, não? Porém, não é nem capaz de chamá-lo pelo nome. M-E-D-O... Saiba, esse medo não me amedronta mais. Eu só o sinto e sigo meu caminho. O medo que você vê (vê sim! vê bem!) está no seu olho, não em mim. Mas não pode nem admitir. Como eles, aliás…
Não, não me entende. Não me entende porque não se entende… Não me admira que quem diga o óbvio lhe pareça um doente… Alguém pra ser salvo… Salvo de quê?! Da verdade? Ora, pois…
Se o ato de simplesmente admitir o que as coisas são, o que simplesmente está aí, lhe parece um grito de socorro… Que conhecimento é esse seu? Nem mesmo vivemos no mesmo mundo, me parece. O que pode você deduzir da realidade se não pode nem admiti-la em primeiro lugar? Que sabe você de mim? “Saber de mim” é seu jeito de fugir de si mesma. Mas eu não jogo esse jogo. Não mais.
Antes, porém, de encerrar esse assunto besta eu tenho que lhe dizer. Essa sua alma, esse “abismo invisível”, esse "dentro sem fim” não tem profundidade nenhuma. É só um jogo de espelhos. Reflexão… Ha! Não é mais que uma capa de ideias criadas pra desviar o olhar. Olha! O profundo está no corpo. E a profundidade do corpo está na flor da pele. A flor da pele que engole. É isso mesmo que você teme… e por isso quer… E só vai ter se pedir, com todas as letras.
segunda-feira, 19 de abril de 2021
fragmentos: desejo é desejo.
Desejo é desejo. Nunca é "eterno", nem mesmo muito longo em duração. Há muitas maneiras pelas quais um relacionamento pode dar errado: desde pessoas loucas e violentas batendo em seus parceiros ou mesmo matando-os, até pessoas que ficam juntas por muitos anos, mas o fazem por causa de pressões culturais/religiosas até legais (em alguns Estados “não muito laicos”) ou mesmo “falta de imaginação”, e apenas vivem o tédio. Porque, como eu disse, desejo é desejo. Terá apenas dois finais possíveis: insatisfação e, por isso, sofrimento; ou satisfação e, por isso, tédio (que também é um tipo de sofrimento)
...desejo é desejo, não se resume à "humano".
E como nos relacionamentos (ou nas atrações que podem levar a isso) duas ou mais pessoas estão envolvidas, você pode encontrar diferentes configurações de sofrimento e tédio. Um dos parceiros pode já estar entediado, enquanto o outro ainda não está satisfeito. Para um, o desejo pode ter passado (ou ter uma intensidade muito menor do que para o outro) ou mesmo nunca ter existido; enquanto para outro o desejo ainda pode ser grande ou até crescente, etc.
É importante saber que os “mecanismos” (ou “forças”) envolvidas nessa atração são impessoais. Ou seja, não levam em conta a felicidade individual dos animais (humanos ou não) envolvidos nesse jogo de atração. É só observar na natureza como muitas vezes esses “jogos” levam a fins violentos e até trágicos. Veja-se os confrontos entre os machos de muitas espécies pela “posse” das fêmeas. Os casos em que um dos parceiros pode chegar a devorar o outro após a cópula (como o caso de algumas aranhas, por exemplo). Ou mesmo os cãezinhos ganindo na rua “engatados” depois de cruzarem… Enfim, a individualidade está “abaixo” desses impulsos que são quase soberanos. O sofrimento de animais humanos individuais não é exceção, faz parte do modo como a atração funciona.
Parece-me que como seres humanos temos que entender e tomar uma decisão perante isso -- ou seja, a questão tem um aspecto ético, envolve tomada de posição perante uma situação. Pelo fato de sermos (auto)conscientes nos deparamos com esses impulsos. Ou seja, a meu ver, diferente de outros animais, os humanos NÃO SÃO (completamente) instinto, eles TÊM instinto. Isso quer dizer que é esse algo em nós que pode dizer que “tem desejo” que nos faz animais um pouco diferentes. Essa capacidade de (auto)consciência está longe de nos tornar soberanos em relação aos nossos instintos, porém. Ninguém escolhe sentir atração ou estar apaixonado por quem não sente o mesmo. Também ninguém escolhe deixar de amar uma pessoa que ainda a/o ama. Como dito, o mecanismo é impessoal e a condição individual é, digamos, atropelada. Temos que reconhecer essas forças impessoais e parar de simplesmente jogar em um ou outro a “culpa” pelo desejo correspondido ou não. É preciso, me parece, assumir essa condição meio trágica de ser consciente dessa impessoalidade do impulso, mas, ao mesmo tempo, não controlá-la totalmente. Isso deve fazer parte do processo de amadurecimento. Se os impulsos impessoais não têm a felicidade dos indivíduos como prioridade, nós podemos pelo menos tentar diminuir as consequências disso. Nós podemos nos ocupar de diminuir o mal estar envolvido nisso tudo.
...É simplesmente que esse jogo da natureza, da vida, está longe de ser “perfeito” ou “equilibrado” -- quando se olha pra ele do ponto de vista da felicidade e bem estar individuais… É uma bagunça do caralho, na real.
domingo, 18 de abril de 2021
fragmentos: democracia.
A posição democrática não é a de quem defende o mais fraco porque o considera moralmente superior. Também não é a de quem acha que a iniciativa privada vai salvar a humanidade com a eficiência mercadológica. Nem a de quem acha que a regulação do Estado é que vai salvar a humanidade da mercantilização de tudo...
A democracia é melhor descrita como um campo aberto de conflito em que se tenta (tendo sucesso nisso ou não) equalizar as oportunidades de ataque e defesa. De forma que as forças envolvidas na construção da vida cotidiana possam se enfrentar da forma mais "equilibrada" possível.
Em outras palavras, a democracia parte da aceitação de que o mundo não se divide claramente em "bem" e "mal", nem entre "luz" e "escuridão". A democracia assume que a realidade é "cinzenta", é um "lusco fusco". Onde os contrários se transformam uns nos outros de forma quase caótica e que não é possível saber com toda certeza no que tudo isso vai dar. Se vai dar em alguma coisa. O grande objetivo não é o fim do conflito, mas sim que o conflito se mantenha "organizado" e suportável. Aqui Estado e iniciativa privada podem coincidir em seus interesses ou se enfrentar. Ou se enfrentar hoje e amanhã se unirem, etc.
Não é por caso que as primeiras práticas democráticas surgiram entre gregos politeístas da antiguidade (ou mesmo entre outros "pagãos", como os escandinavos do mesmo período). Não há "monoteísmo" na democracia. O mundo não está se dirigindo para um "juízo final" na democracia. Os opostos dançam, criam e destroem. Se modificam. Se tornam uns nos outros. E isso não tem um fim "absoluto" definido.
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Jó.
(Iyov [Jó] 28:1-11)