sexta-feira, 23 de abril de 2021

fragmentos: o "epicurista" e a pretensão dos humanos.

Mal me conhece e acha que pode me “salvar”… salvar de quê?! Você diz que entende… entende o quê?! Mal entende o que diz esse corpo. Ah, essas profundidades suas... Ignorantes da obviedade da nudez do rei. O que quero eu com isso?

O que me irrita não é nem esse fingimento. Esse jeito de desejar “sem desejo”, esse tergiversar sem fim... esse teatro. Isso é até compreensível. Civilizados que somos, não? O que me assombra é que você finge com sinceridade… E ainda acha que me "entende”, que pode me “salvar”… Ora, salvar de quê?! 

Da fome?! Estou saciado. Da sede?! Estou bem hidratado. Da morte?! Estou bem de saúde, obrigado…

Você quer me salvar do medo, não? Porém, não é nem capaz de chamá-lo pelo nome. M-E-D-O... Saiba, esse medo não me amedronta mais. Eu só o sinto e sigo meu caminho. O medo que você vê (vê sim! vê bem!) está no seu olho, não em mim. Mas não pode nem admitir. Como eles, aliás…  

Não, não me entende. Não me entende porque não se entende… Não me admira que quem diga o óbvio lhe pareça um doente… Alguém pra ser salvo… Salvo de quê?! Da verdade? Ora, pois…

Se o ato de simplesmente admitir o que as coisas são, o que simplesmente está aí, lhe parece um grito de socorro… Que conhecimento é esse seu? Nem mesmo vivemos no mesmo mundo, me parece. O que pode você deduzir da realidade se não pode nem admiti-la em primeiro lugar? Que sabe você de mim? “Saber de mim” é seu jeito de fugir de si mesma. Mas eu não jogo esse jogo. Não mais. 

Antes, porém, de encerrar esse assunto besta eu tenho que lhe dizer. Essa sua alma, esse “abismo invisível”, esse "dentro sem fim” não tem profundidade nenhuma. É só um jogo de espelhos. Reflexão… Ha! Não é mais que uma capa de ideias criadas pra desviar o olhar. Olha! O profundo está no corpo. E a profundidade do corpo está na flor da pele. A flor da pele que engole. É isso mesmo que você teme… e por isso quer… E só vai ter se pedir, com todas as letras. 

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