Sentado aqui
esse silêncio indizível das coisas
encara-me, cego
sempre
aqui
ela diz que esse desespero mudo
é parte da minha letargia de pequeno-burguês
ela diz que a tragédia real
não se esgueira pelos cantos de apartamentos financiados
nem se arrasta sobre barrigas cheias e levemente flácidas
ela diz que a tragédia real se impõe,
salta na jugular,
vinda do outro lado da esquina,
do outro lado da cama
do outro galho da árvore genealógica
um encontro de sobrevivências,
violências…
o que ela não sabe é que eu sei…
eu sei
essa tristeza que me invade e me soterra
vem do fato de que eu sei...
eu sei
do outro lado do desespero total
da luta constante pela paz evanescente
existe esse desalento sem rosto
esse desassossego sem razão
esse afogar-se lentamente
dos “vencedores”
eu sei, eu queria não saber
mas eu sei…
...e isso ela não sabe
as promessas de paz e bonança
escondem esse conflito sem nome
a necessidade constante de lutar
esconde o vazio da “vitória”
...não há vitória
eu sei
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