segunda-feira, 19 de abril de 2021

fragmentos: desejo é desejo.

Desejo é desejo. Nunca é "eterno", nem mesmo muito longo em duração. Há muitas maneiras pelas quais um relacionamento pode dar errado: desde pessoas loucas e violentas batendo em seus parceiros ou mesmo matando-os, até pessoas que ficam juntas por muitos anos, mas o fazem por causa de pressões culturais/religiosas até legais (em alguns Estados “não muito laicos”) ou mesmo “falta de imaginação”, e apenas vivem o tédio. Porque, como eu disse, desejo é desejo. Terá apenas dois finais possíveis: insatisfação e, por isso, sofrimento; ou satisfação e, por isso, tédio (que também é um tipo de sofrimento) 

...desejo é desejo, não se resume à "humano".

E como nos relacionamentos (ou nas atrações que podem levar a isso) duas ou mais pessoas estão envolvidas, você pode encontrar diferentes configurações de sofrimento e tédio. Um dos parceiros pode já estar entediado, enquanto o outro ainda não está satisfeito. Para um, o desejo pode ter passado (ou ter uma intensidade muito menor do que para o outro) ou mesmo nunca ter existido; enquanto para outro o desejo ainda pode ser grande ou até crescente, etc.

É importante saber que os “mecanismos” (ou “forças”) envolvidas nessa atração são impessoais. Ou seja, não levam em conta a felicidade individual dos animais (humanos ou não) envolvidos nesse jogo de atração. É só observar na natureza como muitas vezes esses “jogos” levam a fins violentos e até trágicos. Veja-se os confrontos entre os machos de muitas espécies pela “posse” das fêmeas. Os casos em que um dos parceiros pode chegar a devorar o outro após a cópula (como o caso de algumas aranhas, por exemplo). Ou mesmo os cãezinhos ganindo na rua “engatados” depois de cruzarem… Enfim, a individualidade está “abaixo” desses impulsos que são quase soberanos. O sofrimento de animais humanos individuais não é exceção, faz parte do modo como a atração funciona. 

Parece-me que como seres humanos temos que entender e tomar uma decisão perante isso -- ou seja, a questão tem um aspecto ético, envolve tomada de posição perante uma situação. Pelo fato de sermos (auto)conscientes nos deparamos com esses impulsos. Ou seja, a meu ver, diferente de outros animais, os humanos NÃO SÃO (completamente) instinto, eles TÊM instinto. Isso quer dizer que é esse algo em nós que pode dizer que “tem desejo” que nos faz animais um pouco diferentes. Essa capacidade de (auto)consciência está longe de nos tornar soberanos em relação aos nossos instintos, porém. Ninguém escolhe sentir atração ou estar apaixonado por quem não sente o mesmo. Também ninguém escolhe deixar de amar uma pessoa que ainda a/o ama. Como dito, o mecanismo é impessoal e a condição individual é, digamos, atropelada. Temos que reconhecer essas forças impessoais e parar de simplesmente jogar em um ou outro a “culpa” pelo desejo correspondido ou não. É preciso, me parece, assumir essa condição meio trágica de ser consciente dessa impessoalidade do impulso, mas, ao mesmo tempo, não controlá-la totalmente. Isso deve fazer parte do processo de amadurecimento. Se os impulsos impessoais não têm a felicidade dos indivíduos como prioridade, nós podemos pelo menos tentar diminuir as consequências disso. Nós podemos nos ocupar de diminuir o mal estar envolvido nisso tudo.

...É simplesmente que esse jogo da natureza, da vida, está longe de ser “perfeito” ou “equilibrado” -- quando se olha pra ele do ponto de vista da felicidade e bem estar individuais… É uma bagunça do caralho, na real. 

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