domingo, 18 de abril de 2021

fragmentos: democracia.

A posição democrática não é a de quem defende o mais fraco porque o considera moralmente superior. Também não é a de quem acha que a iniciativa privada vai salvar a humanidade com a eficiência mercadológica. Nem a de quem acha que a regulação do Estado é que vai salvar a humanidade da mercantilização de tudo...

A democracia é melhor descrita como um campo aberto de conflito em que se tenta (tendo sucesso nisso ou não) equalizar as oportunidades de ataque e defesa. De forma que as forças envolvidas na construção da vida cotidiana possam se enfrentar da forma mais "equilibrada" possível.

Em outras palavras, a democracia parte da aceitação de que o mundo não se divide claramente em "bem" e "mal", nem entre "luz" e "escuridão". A democracia assume que a realidade é "cinzenta", é um "lusco fusco". Onde os contrários se transformam uns nos outros de forma quase caótica e que não é possível saber com toda certeza no que tudo isso vai dar. Se vai dar em alguma coisa. O grande objetivo não é o fim do conflito, mas sim que o conflito se mantenha "organizado" e suportável. Aqui Estado e iniciativa privada podem coincidir em seus interesses ou se enfrentar. Ou se enfrentar hoje e amanhã se unirem, etc.

Não é por caso que as primeiras práticas democráticas surgiram entre gregos politeístas da antiguidade (ou mesmo entre outros "pagãos", como os escandinavos do mesmo período). Não há "monoteísmo" na democracia. O mundo não está se dirigindo para um "juízo final" na democracia. Os opostos dançam, criam e destroem. Se modificam. Se tornam uns nos outros. E isso não tem um fim "absoluto" definido.

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